segunda-feira, 21 de novembro de 2011







O processo de imigração foi um processo importantíssimo para o desenvolvimento do nosso país. Foi graças a esta grande diversidade de etnias que para cá vieram que o nosso pais pode ter essa grande riqueza cultural. Cada imigrante que para cá veio, contribuiu para a cultura e o desenvolvimento do nosso país, pois ele trouxe na sua bagagem, sua força, sua cultura e sua história. Cultura essa que se difunde ate hoje, seja na economia, nas artes, na religião e nos costumes.

Embarcar num empreendimento imigratório requer muita força e coragem. A pessoa terá que deixar para trás um tesouro muito importante, deixará amigos, parentes e familiares, os lugares onde viveu, onde cresceu, seu país e sua segurança, e embarcará rumo a um sonho, rumo a uma esperança para uma nova vida e também a uma incerteza. Pois quando se chega na terra prometida, aquele sonho não se parece nada com aquilo que ela havia imaginado, alguns sonhos tornam-se pesadelo, e agora não há mais como voltar atrás, e sim arrumar forças para tornar o pesadelo em sonho. 
Não foram poucos os casos de decepção a se chegar na terra prometida, e o mesmo ocorre ainda hoje com brasileiros que viajam ao exterior em busca de uma vida melhor e se deparam com uma realidade totalmente diferente. 
Os alemães que quando aqui na cidade de Blumenau chegaram também tiveram uma grande decepção. Imagine a decepção dos primeiros 17 imigrantes alemães quando nas margens do ribeirão da velha se deparam com um engenho mal localizado e prestes a ruir e um barraco de recepção parcialmente destruindo, e que seria ali, neste local que eles estariam iniciando sua nova vida. A situação era tão desanimadora que o próprio fundador da colônia, Dr. Hermann Bruno Otto Blumenau descreve:
“Desmoronaram todas às minhas esperanças. Ruiu por terra o que construí. E aquilo, pelo que tanto arrisquei, sacrifiquei e padeci, meus planos de colonização, encontram-se a uma distância inatingível. Foi um período lastimável. Disso poupe a providência qualquer pessoa honesta.” (O Centenário de Blumenau. P.81).

Os imigrantes japoneses que chegaram a Frei Rogério também passaram por muitas dificuldades. Apesar de chegarem na década de 60, ainda no município não havia eletricidade, a luz era apenas a base do lampião, não havia gás, água encanada. Em dias de fortes chuvas as águas do rio transbordavam e a travessia do rio que era feita por meio de balsa, único meio de chegar à margem oposta era interrompido. Os caminhos enlameados era impossível passar carro e a colônia se transformava numa terra solitária. Não era possível ir ao médico, nem fazer compras. Para piorar as coisas, a produção, única fonte de renda em dinheiro, acabava apodrecendo em depósitos. (Relatos “ Que saudades da Colônia Ramos” de Toshiko Sumi, extraídos do livro “ O caminho dos 40 anos da Colônia Celso Ramos”).

Com isso, tive um grande desafio ao realizar a proposta de revitalizar o parque, pois tive que transmitir para o projeto toda essa força, coragem e perseverança destes bravos imigrantes.




O conceito da proposta do projeto de Revitalização do Parque Sakura, visa REVITALIZAR o parque de modo a PRESERVAR a MEMÓRIA dos imigrantes, lembrando suas dificuldades, sua força e garra para a criação da colônia e agradecendo sua importante contribuição cultural, com seus conhecimentos agrícolas, que contribuem para o desenvolvimento econômico do estado, sua força demonstrada nos títulos adquiridos pela prática do Kendô e por fim evidenciando sua IDENTIDADE cultural, através da cultura japonesa que é tão apreciada no mundo hoje. 



Vista aérea do Parque Sakura

Zoneamento Proposto



PROPOSTA DE IMPLANTAÇÃO








PROPOSTA DAS COBERTURAS PARA ÁREA DE EVENTOS





Proposta de Implantação de 3 Setores


Proposta para casa de Chá
Proposta de Portal de Entrada
Estudo Forma ( Capacete Kendô - Centro Cultural)
Centro Cultural ( Forma de capacete Kendô - Homenagem aos praticantes da colônia)
 Croqui da Implantação Geral




Frei Rogério
Colônia Celso Ramos

Em 2002 resolvi conhecer alguma colônia japonesa em Santa Catarina. Por acaso do destino, no dojo onde eu praticava Aikido, havia uma garota de Frei Rogério, coincidentemente da 1° colônia japonesa de Santa Catarina. Ela compartilhava do dojo com meu professor onde ela ensinava Kendô nos intervalos de sua faculdade. Ao seu convite fui para Frei Rogério participar do Sakura Matsuri e fiquei hospedado na sua casa.
                 Vista aérea do Parque


Dojo de Kendô
                 Vista do Sino da Paz

         Sino da Paz
 (Sua forma é uma abstração do pássaro Tsuru)

Minha primeira impressão foi ficar maravilhado com a beleza natural do lugar. Ao atravessar a ponte e entrar no Parque Sakura me senti entrando em outro mundo. Além da beleza natural da floração das Cerejeiras, o cuidado e limpeza do parque me impressionaram muito.  As apresentações durante a festa foram ótimas e poder conhecer o dojo de kendô, este o primeiro do Brasil foi uma grande satisfação, ainda mais depois de saber que os praticantes de kendô, filhos dos integrantes da colônia já haviam conquistado as colocações de 2° e 3° lugar em competições mundiais, demonstrando a força destes imigrantes.

Apresentação de kendô


Fiquei hospedado por dois dias na colônia e pude compartilhar um pouco do modo de vida e de ser destes Isseis (imigrantes japoneses de primeira geração). Voltei para Blumenau muito satisfeito com a experiência e agradecido pela hospitalidade da família Honda que por dois dias me abrigou em seu lar.
Nos anos seguintes organizei algumas excursões e levei alguns amigos para conhecerem o lugar, mais precisamente no dia da festa da floração da sakura (Sakura Matsuri). Fiz isso por uns 03 anos seguidos, depois por estar envolvido com minha graduação, profissão e demais coisas que faço em paralelo acabei deixando de visitar a colônia.




Em 2008 minha vontade de conhecer mais sobre mim e meu fascínio pela cultura japonesa me fizeram ir a São Paulo e Maringá. Participei de muitos eventos e fiz muitos novos amigos, e em 2009 resolvi voltar a Frei Rogério para ver como andavam as coisas por lá.

Novamente minha paixão pelo lugar falou alto, apesar do tempo, toda aquele fascínio que tive a primeira vez em que Lá estive voltou. O lugar mudou um pouco, ganhou uma casa de forma octagonal e um portal na entrada do parque. Um mudança singela em 7 anos.


Casa octagonal 
(Yumi dono)




Desta vez comecei a ver o parque com outro olhar, e me surgiu um pensamento de como eu poderia contribuir para manter toda essa natureza, essa cultura e preservar essa história para que mais pessoas pudessem ter esse sentimento que eu estava tendo pelo lugar. Como estava às vésperas da minha conclusão de curso em arquitetura e urbanismo resolvi que uma revitalização do parque, com ênfase na preservação da história, cultura, memória e preservação da natureza poderia ser meu tema de trabalho de conclusão do curso, mas isso não seria o suficiente, teria que entrar no projeto do parque uma forma de gerar renda para as pessoas da colônia, para que não houvesse o êxodo rural.


Em 2010 entrei em contato com uma outra garota da colônia que intermediou uma reunião com os diretores do parque. Na reunião expressei minha paixão pelo lugar e que eu estava disposto a fazer um projeto de revitalização do parque e este seria meu presente para eles. 
Começou então a partir deste momento uma nova amizade e uma nova paixão pelo parque, pois agora eu estava me envolvendo com as pessoas do lugar, e a simplicidade, amizade e pureza destas pessoas que passei a admirar fizeram com que eu me apegasse mais ainda ao lugar.


Hoje viajo regularmente à Frei Rogério, onde em cada visita discutimos algum aspecto da revitalização do parque. Cada viajem é um encontro com a natureza, um encontro comigo mesmo e um encontro com pessoas que vieram de muito longe, batalharam, suaram e conseguiram fazer deste lugar o seu lar.





                            Portal de Entrada do Parque









                                     

Dedico esta postagem a vocês queridos amigos da Colônia Ramos de Frei Rogério, pelo carinho que tem me recebido, amizade e companherismo. Temos um longo caminho pela frente, e um grande compromisso com a história e a natureza deste lugar.